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Ex-embaixador aponta reindustrialização brasileira como alternativa aos impactos da nova geopolítica e desorganização do mercado mundial

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Publicado em 22/08/2022

Rubens Barbosa palestrou na RA da CIC Caxias nesta segunda-feira (22) - Foto: Antônio Valiente
Rubens Barbosa palestrou na RA da CIC Caxias nesta segunda-feira (22) - Foto: Antônio Valiente

“O Brasil não é uma ilha, e o que ocorre no exterior tem impacto aqui dentro”. A afirmação é do ex-embaixador em Washington e Londres Rubens Barbosa, palestrante da RA CIC nesta segunda-feira (22). Atual presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), o diplomata analisou, em participação on-line, as consequências da pandemia, da guerra na Ucrânia e, mais recentemente, da crise ao redor de Taiwan sobre a geopolítica mundial no evento promovido pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias). 

As consequências para o Brasil das transformações políticas, econômicas e estratégicas e deste novo cenário global, de acordo com Barbosa, vão depender muito da duração da guerra na Ucrânia, da evolução da crise em Taiwan, das sanções que continuarão sendo impostas à Rússia e, na eventualidade de ataque armado contra Taiwan, das sanções à China. “Como vão evoluir as duas disputas?”, questionou. A guerra da Ucrânia vai se prolongar e continuar a ter forte impacto em todos os países e em todas as áreas, enquanto no caso de Taiwan, é incerto o que vai acontecer, comentou. 

Em sua visão, os impactos sobre a economia brasileira serão enormes nas duas situações. “Estamos tentando voltar a crescer, aumentar o emprego, aumentar a renda – nós, neste ano, vamos crescer até razoavelmente dentro da conjuntura atual - mas no ano que vem, por causa da situação global de desaceleração do crescimento e do aumento da inflação, eu prevejo dificuldades para o Brasil aumentar o seu crescimento. Possivelmente, vamos ter uma redução do crescimento e vamos ter dificuldades de reduzir a inflação”, disse. 

Rubens Barbosa ressaltou que as mudanças no mundo estão gerando muitas vulnerabilidades para o Brasil. “A pandemia e a guerra mostraram como o Brasil está vulnerável em vários aspectos. No comércio exterior, pela concentração de produtos e de mercados. No agronegócio, só para a China, vão 31% das exportações brasileiras; os seis primeiros produtos da pauta de exportações concentram 50% das exportações totais brasileiras. O ideal seria uma desconcentração dos mercados e dos produtos. Governo e setor privado descuidaram desse aspecto. Não é possível o Brasil, um dos quatro maiores produtores agrícolas do mundo, depender 85% dos fertilizantes que vêm de uma área crítica, que é a Rússia”, argumentou o convidado da CIC Caxias.

Por outro lado, Rubens Barbosa ponderou que a vulnerabilidade causada pela desorganização econômica mundial também gera oportunidades, principalmente a busca de novos mercados e novos produtos para as exportações brasileira, além da diversificação das fontes de suprimentos. Em algumas áreas, Barbosa acredita que o Brasil deveria buscar autossuficiência e autonomia, como outros países estão fazendo, por meio da reindustrialização. “O Brasil está longe dos problemas, mas está sendo afetado diretamente. Tem que enfrentar esta nova geopolítica com políticas de médio e longo prazos, reduzir a vulnerabilidade e não tomar partido nem geopolítico nem ideológico nesta disputa entre o Ocidente e a Eurásia. Espero que nesta campanha que se iniciou os candidatos a presidente da República possam ter noção do que está acontecendo, e quem quer que ganhe, a partir de 1º de janeiro de 2023, possa adotar políticas que coloquem o Brasil livre ou com os custos diminuídos dos impactos que estas grandes transformações no mundo estão acarretando a todos os países”, concluiu. 

Em seu pronunciamento de abertura do evento, o presidente da CIC Caxias, Celestino Oscar Loro, enfatizou a importância de o Brasil fortalecer relações comerciais com as grandes economias mundiais, além de olhar com mais atenção para o Mercosul e seu potencial. 

Fonte: Assessoria de Imprensa da CIC - Jornalista Marta Guerra Sfreddo (MTb6267)

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