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Economistas da Fiergs e Farsul alertam para desequilíbrio fiscal e desaceleração econômica
Publicado em 03/11/2025
                  
                    A RA (reunião-almoço) da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), desta segunda-feira (3), reuniu no mesmo palco o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Giovani Baggio, e o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, para analisarem os cenários econômicos do Brasil. Ambos alertaram para um quadro de desequilíbrio fiscal e desaceleração da economia para 2026 e 2027. O evento foi uma iniciativa da Diretoria de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias.
Apresentando dados do Banco Central, Tesouro Nacional e do Observatório da Indústria da Fiergs, Giovani Baggio afirmou que o Brasil enfrenta um grave problema fiscal, com trajetória crescente da dívida pública, expansão de despesas e compensações via aumento de impostos. Segundo o economista, o déficit do setor público consolidado acumula média de R$ 900 bilhões, fazendo com que o governo mantenha uma política fiscal de expansão de gastos e múltiplas medidas de elevação de tributos.
Entre as 18 medidas de aumento de receita listadas por Baggio estão a revogação das alíquotas reduzidas de PIS/Cofins sobre receitas financeiras de grandes empresas, retorno de PIS, Cofins e Cide sobre gasolina e etanol, criação de imposto temporário (9,2%) sobre exportação de petróleo, exclusão do ICMS da base dos créditos de PIS/Cofins, taxação de apostas esportivas eletrônicas, extinção da isenção do imposto de importação para compras de até US$ 50, elevação do IPI sobre armas, aumento do imposto de importação sobre painéis solares e fim da isenção de importação de veículos elétricos. “Os problemas têm origem no descontrole fiscal e no excesso de gastos”, enfatizou.
Baggio também chamou atenção para o crescimento acelerado da dívida bruta do governo, que subiu seis pontos percentuais desde janeiro de 2023, alcançando cerca de 80% do PIB. Segundo ele, estabilizar o endividamento nesse patamar exigiria um superávit primário de 4,4%, cenário improvável diante do atual nível de gastos.
Outro ponto enfatizado foi o aumento da carga tributária, que já chega a 34,2% do PIB, valor próximo à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas sem a contrapartida em qualidade de serviços públicos.
O economista também destacou a escassez de mão de obra qualificada como um dos principais gargalos da indústria. Segundo sondagem da Fiergs, 85,5% das indústrias gaúchas relatam dificuldades em contratar trabalhadores qualificados, o maior índice já registrado pela pesquisa. Para 62% dos empresários, esse é um dos principais fatores que compõem o chamado Custo Brasil, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revelou.
Baggio ainda comentou os impactos das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, que reduziram significativamente as exportações gaúchas para o mercado norte-americano em 2025. Produtos como tabaco (-94,1%), produtos de metal (-63,6%), celulose e papel (-65,8%), alimentos (-66,6%) e madeira (- 74,1%) registraram as maiores quedas.
Desequilíbrio fiscal deve agravar cenário em 2027
Em sua exposição, Antônio da Luz também reforçou o alerta para o desequilíbrio fiscal brasileiro e suas consequências para os próximos anos. Segundo ele, a economia “vem numa desaceleração importante e deve permanecer nesse processo”. O economista afirmou que em 2026 o mercado deve apresentar uma queda gradual, mas com um desequilíbrio fiscal significativo que tende a realimentar a inflação e impedir a redução dos juros no ritmo esperado.
Antônio da Luz projetou um 2027 de alta preocupação, em virtude dos desequilíbrios fiscais crescentes. “Estamos indo para uma situação bastante grave”, disse. Comparando o quadro nacional ao histórico de crise fiscal do Rio Grande do Sul, o economista observou: “Sabemos o que acontece com os serviços públicos e com a vida dos servidores quando o governo breca. É provável que vejamos precarização de serviços e queda forte nos investimentos”.
Ele ilustrou a trajetória de endividamento do País com uma metáfora. “Estamos gastando de um jeito que não tem como sustentar. É como usar todo o cheque especial, depois o cartão de crédito e, quando acaba o limite, abrir conta em outro banco. As chances de isso dar certo são muito baixas”.
Já o presidente da CIC Caxias, Celestino Oscar Loro, em seu pronunciamento de abertura, antecipou a preocupação do setor produtivo com o desequilíbrio das contas públicas e a necessidade de serenidade política e pragmatismo nas soluções. “O País não aguenta mais improvisos. É preciso que o bom senso e decisões técnicas prevaleçam sobre o ruído das disputas ideológicas”, afirmou.
Ao final das apresentações, o painel entre os palestrantes foi mediado pelo diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias Joarez Piccinini.
Fonte: Assessoria de Imprensa da CIC - Jornalista Marta Guerra Sfreddo (MTb6267)