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“Se não houver trabalho e emprego, o acolhimento se torna uma ilusão temporária”, afirma Irmã Rosita
Publicado em 29/09/2025

“Nosso trabalho é acolher, vê-los e recebê-los como seres humanos em busca de alimentação, moradia, oportunidade e necessidades básicas. Mas, se não houver trabalho e emprego, o acolhimento se torna uma ilusão temporária, pois a pessoa logo definhará. O trabalho é verdadeiramente a base da autonomia, da promoção e da valorização da pessoa.” A afirmação é de Irmã Rosita Milesi, primeira mulher no Brasil a receber, em 2024, o Prêmio Nansen para Refugiados da Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (ACNUR), e marcou a palestra que fez na RA (reunião-almoço) da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) nesta segunda-feira (29).
A religiosa scalabriniana, natural de Farroupilha (RS), compartilhou, sem esconder a emoção que o tema humanitário provoca, sua trajetória de quase 40 anos na assistência e defesa dos direitos de pessoas refugiadas e migrantes, e os resultados de iniciativas que orientam centenas ao emprego formal, um passo, segunda ela, decisivo para a autonomia das famílias e para o desenvolvimento local. “Nossa essência humana nos chama a uma vocação particularmente sensível e profunda: sermos arquitetos de pontes que unem, de encontro, que somam capacidades e saberes, e jamais construtores de barreiras, de muros que dividem e excluem”, sublinhou.
Segundo dados da ONU apresentados pela palestrante, 281 milhões de pessoas vivem fora de seus países de origem e, desse total, 123,2 milhões foram obrigadas a deixar suas casas em razão de guerras, perseguições, catástrofes naturais, crises climáticas, fome e graves violações de direitos humanos. “São pessoas que não partiram para fazer uma viagem de turismo, nem para fugir de responsabilidades por terem praticado algum ilícito, tampouco para buscar a realização de um sonho pessoal. Partiram como única resposta à urgência de viver, isto é, para salvar sua vida.”, afirmou.
Na Serra Gaúcha, os números já demonstram a presença da integração. Somente em 2025, Caxias do Sul registrou 5.705 contratações de migrantes e refugiados, com saldo positivo de 1.008 empregos formais, conforme levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Irmã Rosita reforçou que o impacto econômico da inclusão de refugiados e migrantes se estende além dos espaços das empresas. “A integração produtiva é um investimento no desenvolvimento da Região, criando um ciclo de crescimento econômico e coesão social”, frisou.
De acordo com a religiosa, empresas que abriram suas portas a refugiados e migrantes relatam experiências transformadoras e percebem aumento da diversidade cultural e linguística, fortalecimento da reputação e agenda ESG, profissionais bem motivados, alta qualificação profissional de Ensino Superior e habilidades que superam expectativas.
Ao expressar sua preocupação com as mudanças climáticas que, segundo ela, além de serem hoje a maior causa de deslocamentos forçados, ameaçam profundamente a vida e o futuro, a religiosa deixou uma mensagem de esperança no fim de sua palestra. “Desejo reiterar a confiança de que Caxias do Sul e toda a Serra Gaúcha atuarão no fortalecimento deste capítulo de sua história, que estas terras, já reconhecidas como símbolo de trabalho árduo e progresso, sejam cada vez mais uma referência nacional e internacional em acolhimento humano e integração social e econômica dos refugiados e migrantes. E, igualmente, sejam agentes transformadores no cuidado da natureza e no investimento que faça andar juntos desenvolvimento e preservação.”
O presidente da CIC Caxias, Celestino Oscar Loro, também ressaltou o peso da mensagem de Irmã Rosita ao dizer que sem trabalho o acolhimento é uma ilusão temporária. Para ele, a causa humanitária deve ser vista como uma oportunidade de unir solidariedade e dignidade, tendo o trabalho como caminho para a inclusão.
A posse do ministro Edson Fachin como presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça nesta segunda-feira também foi mencionado pelo presidente da CIC Caxias em seu discurso de abertura da RA. Para Loro, o magistrado assume a liderança da mais alta Corte do País em um momento em que a sociedade deposita grande expectativa no fortalecimento da Justiça brasileira. “Esperamos que sua gestão seja pautada pela isenção, pela pacificação do País, pelo desarmamento dos espíritos e, acima de tudo, pela valorização das instituições democráticas independentes e autônomas. Nós, empresários, reiteramos uma demanda que é essencial ao desenvolvimento econômico e social do brasil: a segurança jurídica. Principalmente, queremos segurança jurídica em respeito aos devidos processos legais”, enfatizou.
Fonte: Assessoria de Imprensa da CIC - Jornalista Marta Guerra Sfreddo (MTb6267)